segunda-feira, 31 de maio de 2010

Aumento de dor e sofrimento a cada dia!




Quando vemos a realidade do ônibus, trem, metrô, as dificuldades com a chuva nem, podemos imaginar que todos aqueles Ruandeses passaram dias exilados na Tanzânia, é uma tristeza colocarmos coisas pequenas acima de grandes dores.
Após a morte de seu presidente Júvenal Habyarimana, o povo Ruandês, sem nação, lugar, origem e terra sofre em ter de abandonar o seu país.
Agüentar a fome, a sede, o frio não chega nem perto da dor que esse povo esta sentindo ao ver que parentes e amigos estão mortos e muitos não tem chances de sobreviver devido á falta das condições básicas para a sobrevivência.
Todos se esforçam e procuram ajudar aqueles que estão com a vida por um fio, com medo de dormir sem ter a certeza de que vão acordar, eles querem de qualquer forma preservar a sua vida, mesmo que sabendo que no fim muitos partiram.
Seus passos são vacilantes, se sentem acuados e, em cada olhar pode ser visto um pedido de socorro, para que aqueles que estão com a vida por um fio sejam salvos e que eles possam retornar para o seu país.

Marcia Amaral

Já dizia na música de Gabriel Pensador,até quando levaremos porrada e vamos ficar sem fazer nada?

Ruanda é um pequeno país montanhoso da África, encravado entre Uganda, a norte, a Tanzânia, a leste, o Burundi, a sul e a República Democrática do Congo, a oeste. Lugares que os brasileiros podem ter como opção remota para passarem férias ou até mesmo desconhecerem as localizações destes países.

E o que tem a ver a música de Gabriel com a questão de o segundo parágrafo tratar deste país africano?Justamente quando salientamos a relação ser humano e planeta. De uns tempos para cá não é difícil ver atos contra o aquecimento global, a matança de animais, o desmatamento florestal ou até mesmo a internacionalização da Amazônia.

Entretanto a maioria das pessoas se preocupa muitas vezes com seu próprio umbigo.Não é exagero dizer que muitos dos nossos conterrâneos não saberiam dizer ao certo onde está a região de Ruanda, até porque não é obrigação de muitos deles saber disso e esse é só um exemplo que ilustra o que vemos atualmente,que é um contexto de certo desleixo em relação ao fator social ou até mesmo à postura que muitos adotam ao aderir a certos movimentos.

Certa vez, numa discussão dentro de um fórum de um site de relacionamentos da internet, vi a indagação referente ao que você faria caso a Amazônia estivesse muito ameaçada (o que de fato está), não me lembro muito bem se era esta a pergunta, entretanto tinha relação com o fato e eu disse que faria de tudo um pouco para auxílio, não só se tratando da floresta amazônica. Lembro que a pessoa que postou a pergunta questionou se eu estava falando a verdade, se faria isso mesmo e que ninguém seria capaz de fazer isso atualmente porque todos só pensam em seu próprio bem-estar, o que mostra quão divergente é o pensamento humano ou até mesmo a pouca capacidade de mudança. Esperam que você faça alguma coisa para depois também começarem a agir. E o conformismo hoje é tão grande que as pessoas deixam de acreditar uma nas outras.

E em relação ao caso de Ruanda?Seria bastante pertinente dizer que não estamos próximos das atrocidades que aconteceram no país no ano de 1994 e que não cabe a nós fazer muita coisa em prol da melhoria das condições em que os povos africanos vivem há alguns anos. Mas Ruanda é só um exemplo dessa conformidade já mencionada e que atrasa bastante quem quer fazer alguma coisa. E mesmo que o país fique a quilômetros daqui, às vezes os continentes se tornam um só para quem está disposto a salvá-los.


Por Henrique Vieira

terça-feira, 25 de maio de 2010

Vento no cabelo (ou "Da empatia antropoligicamente incorreta")


Quatro dedos escorridos e quatro dedos pingados. Foi minha mãe quem pintou os pingados, com uma cor muito vermelha como o sol que se põe sempre e manda deitar e dormir nossos ossos. Cada pingo é um bicho e cada bicho sou eu. O pássaro que voa muito alto no céu, o cavalo que penteia as crinas no vento, o peixe que se refresca no rio e a onça que espreita os matos. E cada traço é o céu, o vento, o rio e os matos.

E tem esse homem sem o vermelho do sol pintado no rosto. Ele disse que existem outros homens, muitos outros, que também não conhecem o urucum. Eu me preocupei, porque não pode ser um povo que não sabe pintar o sol e não sabe deitar gostoso os ossos antes de dormir. Disseram que, faz tempo, eles eram como eu também. Mas esqueceram do beijo fresco do vento nos cabelos, e do gosto que dá beber da água dos rios depois de correr numa mata bem verde abraçando o céu.

E o homem veio com uma caixa preta, que ele chamou de máquina, e disse que ia me desenhar do jeito dele. O povo dele tem um jeito diferente de desenhar, eu acho. Não usa a pele e a tinta, mas a máquina. E ele disse que contava histórias assim, como eu e a gente toda escutamos as histórias do meu povo antes de dormir.

Minha mãe falou que a gente é irmão, o meu povo e o dele. Eu não sei. E não consigo entender como pode um irmão esquecer dos outros. E maltratar os outros. Eu quis ficar triste, e fiquei por um pouquinho, mas o homem da máquina falou que não precisava, que ele vai desenhar para que eles lembrem. No fim, o homem vai embora e eu nunca mais vou saber das máquinas dele. Mas eu espero que eles lembrem.

Mariana Lins

guerra salgada

Família? Onde está a sua família? Que terra pisa e que ar respira? Onde estão as árvores do teu chão e os pássaros do teu céu?

As janelas estão sem vidros, assim como a sua alma. O transparente não é por querer! E as folhas, batidas em barro, entre montes de tudo um pouco, a tua própria casa... Família.

Porque abraças o teu sangue, e acorrentas o teu querido com os ombros. E para a sua casa, que já não é mais casa, encobre o choro com uma historinha de ninar: onde não há soldados nem barulho; onde não há fumaça, onde as coisas não se evaporam nem se esfarelam.

Ah, família! Onde estão as portas da tua casa? Quando você saiu você deixou para dentro o teu amor?, mas o teto caiu sobre ele. Os céus encaram para baixo com faces fechadas de neblina densa sobre terra remexida.

E cada passo em direção ao coração explodido são mais alguns centímetros em direção ao imortal. Registrado como com garras em um coração que não teve a chance de fugir.

Por que não choras? Por que no não virar esconde o rosto melado de insônia e desilusão? Agradece a roupa do corpo e o calçado dos teus pés!, pois de mim tens a compaixão e para a tua casa eu desejo a reconstrução.

Volte em paz, família. Dos céus já não caem mais aves inflamadas em ódio, tampouco do horizonte surgem grandes monstros com os braços abertos para te engolir.

Tente dormir família. Já, já, vem o sol, e talvez Deus olhe novamente sobre você!
Elias Martins (maio/2010)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Abandono?

Trocar de região, país, estado ou até mesmo domicílio. Questão que gera muita polêmica por depender de regras obrigatórias, que envolve interesse políticos, econômicos, deixando um vão ente o mundo da riqueza e da pobreza.

Mas como para toda ação, existe uma reação, as conseqüências começam a aparecer com o êxodo. Famílias migram de suas regiões para as cidades grandes, mas não conseguem acompanhar a vida turbulenta, então vários problemas sociais surgem, trabalhos não são suficientes e muitos acabam optando pelo trabalho e residência informal. Mas o pior é não conseguir acompanhar a criação de seus filhos.

Crianças são abandonadas em instituições, crescem sem nenhuma formação. Pequenas crianças, abandonadas por serem infelizmente um peso a mais na vida dessas pessoas que estão começando uma nova vida em uma cidade grande.

Pequenas crianças reunidas, esperando seus pais voltarem para buscá-las, será que voltarão?

Thaisa Soares


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Lembranças registradas

A como era bom aquele tempo! Eu adorava acordar e jogar bola. Não queria saber de mais nada. Minha mãe vivia mandando eu estudar e me preocupar com o futuro, porque num país como o nosso, onde não se tinha muita expectativa de um futuro melhor, tínhamos que fazer a nossa parte.

Eu até que ia para a escola. Ah, quer dizer, ia de vez em quando porque o que eu gostava mesmo era de jogar bola. Então, sempre que conseguia dar uma escapada, fugia das aulas e ia para um campinho ali no fundo da escola. Não era exatamente um campo, daquele que a gente é acostumado a ver na televisão. Era um terreno, esburacado e com algumas árvores caídas. Mas nada do que uma forte e bela imaginação para tornar o impossível em realidade.

Eu e meus amigos nos sentíamos jogadores da seleção oficial da Angola. As vezes, eu jogava sozinho. E como me divertia! Eu chutava a bola e depois saia correndo, eu era o artilheiro e goleiro ao mesmo tempo. Bons tempos!

E se tem um dia que não vou esquecer é meu aniversário de 13 anos, pois foi a primeira vez que ganhei uma bola. A minha bola de futebol. Foi o dia mais feliz da minha vida, e nada vai conseguir apagar essa lembrança.

Eu andava para cima e para baixo com a bola. Ela vivia debaixo do meu braço esquerdo e não conseguia soltar nem para dormir.

A bola rolou tanto, mas tanto que, em pouco tempo, ficou surrada e velha! Mas eu não ligava, para mim era o maior tesouro do universo!

Lembro-me de um dia que estava voltando da escola com meus amigos e decidimos parar no velho campinho para jogar uma partida. Meu time jogou muito. Eu fiz três gols. E como já estava ficando tarde decidimos voltar para casa, mas eu não. Eu queria jogar e jogar e jogar. Então, falei para o Tíbio, meu vizinho, para avisar para minha mãe que logo menos estaria em casa.

Então, enquanto eu estava jogando, sendo artilheiro e goleiro, simultaneamente, percebi que havia um homem ali perto só me observando. Fiquei bem assustado. Parei, segurei minha bola e dei alguns passos para atrás.

O homem, percebendo minha preocupação, veio ao meu encontro e me cumprimentou. Para ser sincero, eu nem lembro o que o homem falou, pois eu estava encantado com o objeto que ele segurava com suas mãos. Era tão bonito quanto minha bola e eu até já tinha ouvido falar daquilo. Era uma câmera fotográfica. Quase ninguém tinha e só os ricos tinham retratos.

Então, o homem ficou conversando comigo, perguntou quem eu era, onde morava e depois de muita conversa, pediu para jogarmos uma partida. E eu, é claro, não hesitei. Jogamos umas duas vezes e estávamos exausto! O homem era de um outro país e até me ensinou umas técnicas.

Depois de muitas risadas o homem falou que precisava ir para casa, e eu também precisava, pois estava bem tarde. Mas antes de ir embora, o homem pediu para tirar uma foto para registrar aquele momento. E nossa, fiquei super feliz. Além de ter aprendido novas jogadas ainda fui fotografado. E assim, fomos embora. Eu por um lado e o homem para o outro.

Nunca mais vi este homem. Entretanto, a lembrança de minha infância e daquele momento com o fotógrafo desconhecido, nunca saíram da minha mente.

Hoje estamos vivendo tempos difíceis. Morava em Cazombo, aqui mesmo na Angola, mas tive que me mudar para a província do Alto do Zambeze. Não é tão perto de onde morava. Por sinal, é muito longe do campinho. Alias, aqui não tem campinho de futebol.

A minha família teve que fugir por causa da guerra, destruíram tudo! Provavelmente, vou ter que me mudar de novo. Hoje, nós vivemos escondidos, praticamente vivo dentro de um buraco. Ou melhor, em uma caverna.

Mas o pior de tudo, é que além de não poder jogar futebol eu não posso mais andar com a bola debaixo do braço esquerdo. Se alguém ver, vai roubar ou até me matar. Tudo aqui é proibido.

Hoje, encontrei um caderno e uma caneta jogadas no chão, quase perto da “porta” de onde estou morando. Provavelmente, alguém deve ter jogado ou até mesmo, pode ter sido jogada pelos soldados.

Depois de olhar o caderno, fiquei pensando bastante e vi como minha mãe estava certa. Como é importante estudar. Se os homens que começaram a guerra tivessem estudado não existiria guerra. Eles iam querer alcançar a paz, isto sim!

Mas nem tudo é como esperamos, mas mesmo com um presente difícil continuo acreditar em um futuro melhor. E como não posso brincar mas com minha bola escrevi essa carta.

E se você está conhecendo minha história é porque achou minha bola e leu a carta que estava dentro dos fios de costura da bola. Eu não sei o qual vai ser o meu futuro.

Mas já que você achou a bola, corra, jogue, brinque, imagine! É na imaginação onde tudo pode virar realidade. E o mais importante, nunca esconda os seus tesouros. Compartilhe. Quem compartilha, distribui felicidades e sonhos. E eu compartilhei o meu.

Não seja como esses homens da guerra, não destrua! Construa!

Zulu Carlos, 15 anos, 1997.


Camila Prestes

terça-feira, 11 de maio de 2010

Essa foto foi feita em Moçambique, ela entre outras faz parte no novo livro do fotógrafo Sebastião Salgado. É o retrato de uma mãe africana, que como muitas leva seu filho para labuta diária.

O que chama atenção nessa imagem é a proximidade dos seres humanos com nossos ancestrais, os macacos. A posição da mulher, a forma como carrega seu filho nas costas, é muito semelhante a esses animais no seu habitat natural.

Hoje vivemos em meio as leis de proteção a criança e o adolescente, mães que se desdobram em cuidar dos filhos e da profissão. Esta o leva junto para o trabalho, a criança faz parte do seu esforço diário.

Ela demonstra sua força pelos músculos, sua dor transparece pela face, é notável seu sentimento de afeto e ternura com seu “filhote”.

Entre sonhos e conflitos


O jovem afegão Rustam Ashva conduzia o rebanho de volta para casa num fim de tarde cinza na montanhosa Cabul, capital do Afeganistão. Única fonte de renda da família Ashva, o gado era de grande valia em tempos difíceis de conflitos políticos. O mundo vivia momentos tensos. Após os atentados de 11 de setembro, falava-se muito sobre uma possível invasão norte-americana, isso porque, um dos principais suspeitos dos ataques, Osama Bin Laden, estaria supostamente escondido em terras afegãs.

Invasões não são novidades no Afeganistão. No final da década de setenta, a então União Soviética, numa manobra militar em apoio a um grupo comunista que havia chegado ao poder no país, permaneceu por muito tempo no Afeganistão. Fato que Rustam Ashva conhece muito bem, apesar de ter nascido somente em 1989, ele ouviu diversas vezes o pai contar sobre os momentos difíceis que passou. À época, o conflito ganhou intensidade com a ajuda bélica enviada pelos Estados Unidos, curiosamente, aos mesmos radicais fundamentalistas que hoje eles chamam de terroristas. Realmente, geopolítica é algo bastante complicado de entender.

Para o jovem Ashva, era difícil compreender o motivo que levava as pessoas a usarem armas, mesmo essa prática fosse bastante corriqueira no Afeganistão. Membro de uma família tradicional aos ensinamentos islâmicos, Rustam Ashva nuca aprovou as lutas religiosas tão comuns em sua região. O ódio entre judeus e muçulmanos é muito forte no Oriente Médio e tudo isso era complexo demais para um jovem de apenas 21 anos. Mesmo assim, Ashva sempre acreditou na paz entre as diferentes crenças.

Mas o momento político mundial não era bom, os dias se passaram e o inevitável aconteceu. A suspeita de uma possível intervenção militar norte-americana se tornou realidade. Os conflitos envolvendo Talibãs e soldados dos Estados Unidos e da ONU viraram uma triste rotina na vida das pessoas que moravam em Cabul. Conduzir o gado se tornou uma tarefa perigosa por causa da intensidade do conflito armado na região.

Na vida, às vezes, o acaso é um fator decisivo para as pessoas, seja positivo ou negativo não há como evitá-lo. Foi exatamente o que aconteceu com o jovem Rustam Ashva. Certo dia, quando conduzia o gado de volta para casa, o rapaz acidentalmente pisou em uma mina que estava, estrategicamente, enterrada com a finalidade de explodir algum ianque. Mas, o armamento acabou atingindo o alvo errado. De repente, tudo se apagou para o jovem afegão.

Quando Rustam Ashva abriu os olhos, a primeira coisa que viu foi uma série de uniformes brancos. Alguns minutos depois ele descobriu que se tratava de um hospital. Reconheceu seus pais e irmãos, mas não gostou da expressão triste e assustadora da família. Por um instante ele foi tomado por uma forte angústia, como se algo terrível houvesse acontecido, o que de fato era verdade. De acordo com o laudo médico, ele iria perder a perna direita, membro que foi bastante danificado pela explosão.

O medo tomou conta do jovem afegão. Agora, ele seria obrigado a abandonar todos os seus sonhos por causa de um ferimento ocasionado por algo que ele sempre condenou. As armas.
Hoje, cinco anos depois da tragédia, o jovem ainda caminha pelas regiões montanhosas de Cabul. Conduzir o gado agora é tarefa de seu irmão mais novo, que no último mês completou dezessete. Apesar das dificuldades, Rustam Ashva tem planos para o futuro, quer estudar medicina fora do país. Recentemente, ele se inscreveu em um projeto de intercâmbio promovido pela ONU, um processo de deve demorar um pouco por causa de questões burocráticas.
Mas, algumas coisas não mudaram para o jovem afegão, ele ainda não endente o motivo das armas e dos conflitos. Esse é um pensamento que o acompanha todos os dias que ele caminha pelos rochedos, munido de suas muletas. Hoje, a velocidade de sua caminhada diminuiu, mas ele segue firme o seu caminho, mesmo que sem entender alguns assuntos. Geopolítica, conflitos e armas, definitivamente, as matérias mais complicadas na opinião do jovem afegão.
Nilton Carvalho

Pés

Pés cansados, pés descalços, pés calçados.
Pés que correm, pés que caminham, pés que trilham caminhos.
Caminhos árduos, caminhos calmos, caminhos distantes.
Pés que vivem, pés que sobrevivem, pés que querem paz.
Pés que amam, pés que enganam, pés que suportam.
Suportam o calor, suportam a dor, suportam o fardo.
Fardo de um, fardo de vários.
Fardo de ser você, fardo por não ser quem se sonha ser.
Pés que sorriem, pés que amargam,
pés que esperam, pés que sonham.
Sonham com futuro, lembram com saudade
e imaginam com esperança.
Pés que pisam a terra molhada, pés que pisam no concreto,
pés que pisam na areia.
Pés que são os seus, pés que são meus.
Pés dos que caminham por aí.

Maressa Fernandes