quinta-feira, 17 de junho de 2010

Vida e viaduto

Por Nilton Carvalho

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Fome no Sahel

Mali, 1985.

O centro de nutrição infantil de Douentza também atende mulheres com filhos em idade de amamentação.

História

No ensaio Fome no Sahel, o fotógrafo Sebastião Salgado mostra a difícil situação vivenciada na África, no período de 1984 a 1985.

Neste ensaio, ele retrata a miséria vivida por pessoas em vários países africanos, como Etiópia, Mali e Sudão. As imagens impressionam pela grande reafirmação da realidade que é de conhecimento de muitos, mas poucos realmente tomam atitudes que diminuam a grave escassez de recursos básicos para moradores de regiões afetadas diretamente pela exploração e pelas condições naturais.

Texto interpretativo

O dia a dia tem sido cada vez mais corrido e desafiador. Lutamos para conseguir um emprego, ter bens, conquistar coisas em favor de si próprias.

Preocupa-se tanto com os sonhos e as vontades, que a luta pela vida dos outros fica esquecida.

O egoísmo e a falta de amor pelo próximo têm se tornado freqüentes. Não ligamos para o que os outros neste exato momento pensam, passam, sofrem.

A imagem do ensaio Fome no Sahel alerta a preocupação de uma mãe e a sua luta pelos seus, a fim de que eles possam viver. Devemos ter coragem para ajudar seja lá quem for e ter a esperança de um futuro melhor para todos.

Ana Clara Guerra

Mestre



Um dia minha mãe virou e me perguntou:
- Filho, o que você quer ser quando você crescer?
Eu nem pensei antes de responder:
- Professor, mamãe!
A alegria de ensinar aos outros como meu professor fazia me encantava muito e me fazia ter a certeza que era daquela forma que eu queria ser. Uma pessoa que apesar de toda a miséria que enfrentávamos era capaz de sorrir e brincar enquanto nos ensinava, me fascinava. Olhos de menino, uma criança que só via o mundo belo apesar de ter ciência da desgraça que me rondava.
O chão no cimento cinza e todos sentados em fileiras com os pés esticados olhando para aquela figura que nos chamava e ao invés de dar nossa mão à palmatória dava um abraço e um carinho, dava aquilo que muitos não recebiam em casa, amor...
Eu era uma das poucas crianças que tinha ainda seus pais vivos e casados, muitos dos outros que freqüentaram aquela sala e tiveram o carinho daquele mestre haviam perdido seus entes queridos para a guerra, para as bombas, as tropas inimigas, os saqueadores e todos aqueles que queriam defender seus bens sem olhar a quem faziam o mal.
Hoje cresci e toda vez que paro e olho para trás agradeço aquele senhor que todas as manhãs sorria e me ensinava como crescer e me tornar alguém melhor, como sair daquele pais de miséria e fazer de mim um homem de bem.
Não sou o homem mais rico do mundo, nem tenho a pretensão de ser. Sou uma pessoa que estudou, lutou e muito para chegar hoje onde estou.
Tive que fugir da guerra, deixar para trás todos os meus amigos que se perderam entre os destroços e cadáveres, mas não me arrependo.
Pois quando acordo todo dia olho no espelho e digo:
- Você conseguiu!



Referência fotográfica:
Livro: – SALGADO, Sebastião e BUARQUE, Cristovam. O berço da desigualdade. Brasília: UNESCO, 2005.
Fotografia: Escola no Quênia na região do lago Turcana (p. 166-167).

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Verdadeiro Ouro

por: Homero Leoni Bazanini

Sebastião Salgado procura retratar um recurso utilizado pelas pessoas para esconder fatos socias que as beneficiam,ou seja, a chamada “vista grossa”.Através de fotos impactantes, o autor nos mostra o tamanho daquilo que é esquecido pela sociedade, pois quando os seres humanos correm, brigam e se matam por assuntos levianos, existem pessoas que não podem correr, nem brigar e nem se matarem, pois já estão praticamente mortas.

A foto abaixo foi tirada na chamada Serra Pelada localizada no município de Curionópolis ao sul do estado do Pará e abordará que o luxo de poucos é a angustia de muitos.




A Serra Pelada foi considerada o maior garimpo em céu aberto do mundo, com isso começou uma intensa corrida pelo ouro e isso mexeu com o sonho de muita gente. Afinal o ouro é tão cobiçado pela sociedade e tudo o que é cobiçado pelos homens de maior aquisição é logo em seguida cobiçado por todos, pois é a oportunidade que surge para quem pretende sair da miséria.

Sebastião Salgado um dos mais respeitados fotógrafos de todo o mundo retrata esse desespero da população para poder mudar de vida, não importa as condições, não importa nem mesmo a humilhação, a falta de higiene e saúde, pois eles querem ter o que comer no final do dia ou um lugar para morar ou até mesmo o reconhecimento futuro da sociedade.

É um formigueiro humano, cada formiga carrega nas costas os seus pertences e vaga mundo afora atrás de um novo objeto de caça, e é isso o que ocorre também na Serra Pelada, só que as formigas têm forma e alma de seres humanos.

Esses homens estão atrás de um pedaço de ouro, arriscam a sua vida por isso, pois os seus sonhos dependem exatamente disso, porém existem na metrópole também pessoas que tem como objetivo o ouro; o joalheiro que quer vendê-los e manter uma vida tranqüila financeiramente e os usuários que querem se enfeitar para irem para as festas da alta sociedade, que querem ter o seu luxo, que querem um diferencial. Mostrar poder no mundo contemporâneo não é diferente de como era na era medieval, é fazer com que outros trabalhem até a morte, suportem qualquer humilhação para alguns poucos colocarem um semblante de superioridade no rosto e um anel no dedo.

É por fotos como essa que Sebastião Salgado se destaca, ele não é apenas um fotógrafo que aperta um botão, mas sim um grande crítico social, no qual estampa na cara das pessoas o que eles não querem ver de maneira alguma, pois como diria Clarice Lispector “Porque ás vezes acordar tem lá as suas desvantagens”, mas Sebastião Salgado diria que enxergar o que não se quer ver tem a maior desvantagem de todas, a de ver a realidade.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Aqueles pés descalços



Pés descalços. Sujos, símbolo do trabalho ou da miséria? Talvez miséria apesar do trabalho. O fato é que são simples os chinelos, simples as calças e simples os pés que os vestem. Apesar de ser a parte menos vista é a cara do Brasil. Um povo que trabalha, sofre, paga as contas e vive na miséria. Isso eu digo pela grande maioria do povo que, simples, não tem vergonha de caminhar por uma vida melhor, pra fugir da seca e da fome. Não tem vergonha de caminhar em busca de trabalho, de saúde e educação. E não tem vergonha de ir atrás de um futuro melhor para os filhos.

Jamille Niero

Diário de um menino do Sul do Sudão



1993: No Sul do Sudão garotos fogem para campos de refugiados para não serem convocados para a Guerra civil entre o governo e os rebeldes, os dois lados alistam jovens ;a força para o combate.


Por Marjorie Maluf

Fome.
Sede.
Meus olhos ardem
Meu corpo está cansado.
Estou tentando me acostumar com os dias escuros e noites de caminhada. A ordem do líder é vigiar.
Não sei quanto tempo mais vai durar essa viagem.
Me disseram que se eu estiver sozinho e o sol nascer, eu devo procurar qualquer buraco, caverna ou fenda para me esconder.
Na partida, a minha mãe chorou lágrimas finas, aquelas que são permitidas nessa seca. Eram tantas que pensei até em bebe delas. Doeu para ela me deixar ir. Dói para mim ainda ter que deixá-la.
Quando meu pai foi para a guerra, morreu. A minha mãe disse que não suportaria que eu morresse também.
Eu perguntei para ela quem tinha razão na tal peleja e ela me respondeu que os dois lados são culpados pela morte.
Foram bonitas suas palavras na despedida.
-Meu filho seus pés vão te levar para a vida, mesmo que seja longe de mim.
Eu sinto falta de casa. Será que eu vou vê-la novamente? A minha irmã ficou sem os irmãos para protegê-la das meninas maiores e garotos abusados.
Se meu pai se foi e meu irmão teve que escapar também, era para eu cuidar delas. O meu irmão tem doze anos, faz um ano que não o vejo, fico pensando se vou encontrá-lo no campo para onde vamos.
A minha mente fica cheia de muitas coisas, com dez anos eu estava correndo na rua , agora tenho onze e estou fugindo para ser um refugiado.
Me explicaram que lá teremos segurança. Eu tenho medo dos homens com armas, receio que me encontrem e me levem para o inferno, é como chamam a guerra, inferno.
Na minha aldeia podiam me pegar e me massacrar em lutas vãs e aqui nem sei se vou sobreviver ao amanhã. Não sei como é que sabemos se estamos morrendo, mas se for assim como me sinto, quero que acabe logo.
Mas quando me lembro dos meus, ando mais um pouco, mais um passo, só mais um pé.
Minha cabeça dói.
Meus olhos continuam ardendo.
Ainda tenho sede.
Estou sempre com fome.