quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mestre



Um dia minha mãe virou e me perguntou:
- Filho, o que você quer ser quando você crescer?
Eu nem pensei antes de responder:
- Professor, mamãe!
A alegria de ensinar aos outros como meu professor fazia me encantava muito e me fazia ter a certeza que era daquela forma que eu queria ser. Uma pessoa que apesar de toda a miséria que enfrentávamos era capaz de sorrir e brincar enquanto nos ensinava, me fascinava. Olhos de menino, uma criança que só via o mundo belo apesar de ter ciência da desgraça que me rondava.
O chão no cimento cinza e todos sentados em fileiras com os pés esticados olhando para aquela figura que nos chamava e ao invés de dar nossa mão à palmatória dava um abraço e um carinho, dava aquilo que muitos não recebiam em casa, amor...
Eu era uma das poucas crianças que tinha ainda seus pais vivos e casados, muitos dos outros que freqüentaram aquela sala e tiveram o carinho daquele mestre haviam perdido seus entes queridos para a guerra, para as bombas, as tropas inimigas, os saqueadores e todos aqueles que queriam defender seus bens sem olhar a quem faziam o mal.
Hoje cresci e toda vez que paro e olho para trás agradeço aquele senhor que todas as manhãs sorria e me ensinava como crescer e me tornar alguém melhor, como sair daquele pais de miséria e fazer de mim um homem de bem.
Não sou o homem mais rico do mundo, nem tenho a pretensão de ser. Sou uma pessoa que estudou, lutou e muito para chegar hoje onde estou.
Tive que fugir da guerra, deixar para trás todos os meus amigos que se perderam entre os destroços e cadáveres, mas não me arrependo.
Pois quando acordo todo dia olho no espelho e digo:
- Você conseguiu!



Referência fotográfica:
Livro: – SALGADO, Sebastião e BUARQUE, Cristovam. O berço da desigualdade. Brasília: UNESCO, 2005.
Fotografia: Escola no Quênia na região do lago Turcana (p. 166-167).

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